Repetição e Dedicação a Chave do Tênis

Pete Sampras chegou na Academia quando tinha 15 anos, depois que Fritz Nau o convenceu que treinar na Flórida seria mais adequado a seu desenvolvimento. Começou com um programa simples, mas ele optou por ser interno. Não apenas gostava muito dos treinos como também adorava o clima de competição que a Academia oferecia.
Quando Pete veio, tínhamos toneladas de bons jogadores na equipe, como Andre Agassi, Jim Courier e David Wheaton, assim como alguns tops do circuito juvenil que acabaram não vingando tão bem no circuito profissional, como Dan Dahamy e Nicolas Pereira. Todos eles tinham as mesmas metas e ambições, cultivando uma atmosfera extremamente competitiva, e assim naturalmente um puxava o outro ao máximo.

Sampras era muito introvertido, educado e tímido. Mas também era muito maduro para sua idade, tinha uma incrível ética no trabalho e treinava com a maior seriedade. Acho que praticamente todos os garotos que já treinei sempre tinham um pai ou uma mãe envolvido nos treinamentos. Pete, porém, tomava todas as decisões. Seus pais davam apoio, mas deixavam a prática e o calendário por nossa conta. Enquanto ele jogava um campeonato, a mãe poderia estar fazendo compras e assim não sofrer com o andamento do placar.

Designei Joe Brandy, o Josito, para ser o técnico de Sampras. Ele era um treinador mais velho com muitos anos de experiência e acreditava na repetição de golpes e na troca de milhões de bolas. A rotina era severa entre eles. A filosofia de Joe era que o tênis deve ser jogado de forma simples, não se deveria ficar inventando muita coisa. Milhares de bolas cruzadas, milhares de paralelas, voleios e mais voleios. Josito usava uma Prince Classic com apenas 30 libras. Podia ficar três metros atrás da linha de base, com um grip Continental, e podia simplesmente colocar a bola em jogo aparentemente para sempre.

Durante essas práticas, cabia a Pete fazer todo o trabalho, ditando o ritmo, porque a bola de Josito não tinha praticamente nenhum ritmo. Após duas horas, Pete estava completamente esgotado. Lembro que muitas vezes perguntava a Pete se ele preferiria bater com tenistas que colocavam mais peso na bola, mas ele dizia sempre o mesmo: "Este é o melhor treino". À tarde, ele jogava pontos com outros juvenis e entendia claramente qual era o seu estilo de jogo. Sempre o encorajamos a definir o ponto na rede.

Dois dos melhores golpes de Pete eram o saque e o voleio. Nunca vi um tenista tão empenhado em trabalhar o saque como ele. Podia ir para a Quadra 2 toda noite, depois do jantar, ali pelas 19 horas, e por sua conta pegava um balde de bolas e praticava o saque. Colocava um alvo no lado do 'iguais' e sacava todo o balde de bolas naquele lugar. Sempre o primeiro saque. Não me lembro de tê-lo visto treinar o segundo saque. Claro que isso resultava nele uma tremenda confiança no primeiro serviço. Muitos que tiveram o privilégio de vê-lo jogar, diziam que ele não tinha segundo saque, mas dois primeiros saques. Aí, no dia seguinte, ele repetia o ritual no lado da vantagem. Testemunhamos isso muitas vezes: encarando um 0-40, saia da situação com três aces seguidos. Isso era resultado das longas horas de prática, aperfeiçoando o golpe.

Sampras também treinava seus voleios por pelo menos 20 sólidos minutos em todos os treinamentos. Eu estive com inúmeros profissionais ao longo de minha carreira e a maioria praticava voleios por cinco minutos no final do dia. Essa era a diferença entre Pete e os outros.

Seu preparador físico era Pat Etcheberry, a quem recrutei da Universidade de Kentucky. Chileno que competiu no atletismo dos Jogos Olímpicos, era um trabalhador dedicado. Sua filosofia era, e ainda é, alcançar o máximo de cada atleta. Sua frase característica era "sem dor, sem ganho". Recordo claramente Pete dando arrancadas no velho gramado de futebol da Academia, colocando um pneu na barriga, terminando o esforço com vômito e começando tudo de novo. Costumeiramente durante seus jogos, depois de sacar e volear, um estilo de jogo que demanda físico, ele vomitava e ainda assim continuava ganhando suas partidas, para diversão dos espectadores.

Sampras, Boris Becker (que ficou dois anos na Academia, mas nunca trabalhei com ele) e Roger Federer, a quem tive a oportunidade de trabalhar no período que Kei Nishikori era seu rebatedor, são  três jogadores que tiveram a mesma exata rotina. Não havia nada de extravagante, a não ser bater muitas bolas, repetição e trabalho duro à moda antiga.


by Gabe Jaramillo

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